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Dr. Davidson Alba

Hérnia de Disco: causas, sintomas e fatores de risco

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Hérnia de Disco: causas, sintomas e fatores de risco

Após completar 6 hérnias de disco operadas em 08 dias corridos recentemente, percebi que talvez fosse a hora de falar sobre essa doença, tão comum quanto incompreendida, mas, antes de mais nada, é necessário esclarecer alguns conceitos:
uma boa figura é a do disco intervertebral  analogamente a um colchão: há o conteúdo interno (espuma ou molas num, núcleo pulposo noutro) e uma membrana externa que o delimita (tecido externo num, ânulo fibroso e platôs noutro). Hérnia é o que se projeta, ou se insinua, através de uma membrana, ou de um orifício, seja ele natural ou não. 

O universo das patologias degenerativas da coluna vertebral, dentre elas a hérnia discal, é nada mais do que reflexo do envelhecimento espinhal, que faz parte do desgaste esquelético e do corpo como um todo. Com o passar dos anos, a contribuição da tendência genética inata de cada indivíduo e de alguns hábitos negativos, como, por exemplo, sobrepeso e obesidade, tabagismo, sobrecarga de levantar cargas e sofrimento de impacto sobre a coluna, especialmente se cronicamente repetitivos, geram manifestações de desgaste da porção espinhal do esqueleto.

O disco intervertebral perde parte da sua hidratação fisiológica e, com menores flexibilidade e absorção de impactos, tanto degenera, perdendo altura e "esparramando", como um colchão velho, quanto sobrecarrega as facetas articulares e os ligamentos da coluna.

Pela carga excessiva, as articulações facetárias deixam de cumprir perfeitamente sua função, igualmente degenerando e agravando a situação. Uma das consequências é a chamada instabilidade, quando, no caso, a degeneração espinhal proporciona relativa frouxidão articular e ligamentar, permitindo uma mobilidade excessiva/doentia daquele segmento da coluna vertebral. Para tentar "sanar" isso, o corpo se "defende", tentando estabilizar o segmento vertebral (conjunto de duas vértebras, um disco intervertebral, uma articulação facetária de cada lado e todo seu aparato ligamentar correspondente) através de pontes ósseas entre uma vértebra e outra, ou entre uma faceta articular e outra. São os chamados osteófitos, ou os famosos "bicos de papagaio". O problema é esse processo ocorrer tão próximo de partes do sistema nervoso, como as raízes nervosas ou a medula espinhal, que provavelmente terão o espaço disponível para si diminuído pelas alterações degenerativas, quando não sofrerem compressão direta e possivelmente severa.

O processo degenerativo da coluna vertebral, que ocorre com todos, costuma acontecer de forma silenciosa, sem provocar sintoma agudo nenhum, na maioria das pessoas. Entretanto, à medida que o espaço disponível para as estruturas neurais (raízes nervosas, medula espinhal ou cauda equina) é diminuído por osteofitos e herniações, aquelas sofrem por passarem a estar comprimidas. Sendo o sistema nervoso análogo a um sistema elétrico, pode-se dizer que as manifestações clínicas, que aparecem de tais compressões, são como que sinais como de "mau contato". Se o sistema "elétrico" é responsável pela sensibilidade e pelos movimentos, suas alterações serão correspondentes a problemas das sensações (dor, formigamentos, perda do tato) e motoras (paralisia parcial ou total da porção do corpo "atendida" por aquela determinada estrutura nervosa). 

O desafio do médico, diante de um paciente com queixas potencialmente atribuíveis a alguma patologia da coluna vertebral, notadamente a hérnia de disco, é relacionar as informações fornecidas pelo paciente e seus exames, para cruzá-las com a anatomia do sistema nervoso. Em se tratando de doença degenerativa da coluna, é fundamental existir a chamada "correlação clinico-radiológica". Deve haver uma lógica entre o que o paciente sente e aquilo que há na sua coluna. Uma dor lombar que se irradia para a perna sugere haver uma hérnia discal lombar, assim como dor cervical irradiada para o braço pode sugerir hérnia discal cervical. Fraqueza nos quatro membros pode estar relacionada a uma grande hérnia discal cervical, comprimindo a medula espinhal, assim como fadiga precoce e progressiva nas pernas, ao caminhar, pode ser causada pelo estreitamento do canal vertebral lombar, às custas de osteofitos e herniações.

O correto diagnóstico de tais situações deve ser feito por um médico especialista, preferencialmente titulado pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, se for neurocirurgião, ou pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, se for ortopedista. Não raro, ambas as entidades atuam em conjunto com a Sociedade Brasileira de Coluna. Uma vez que se diagnostica uma hérnia de disco, caso seus sintomas sejam persistentes e perturbem a qualidade de vida do paciente, ela deve ser tratada. Da mesma forma que o diagnóstico, o tratamento deve ser indicado por um especialista, idealmente atendendo às condições citadas no parágrafo anterior. Cabe ao cirurgião definir se há necessidade de algum tipo de intervenção, que pode ser desde um bloqueio ("infiltração") até uma cirurgia de grande porte. As diferentes técnicas - cirurgia tradicional, cirurgia menos invasiva, microcirurgia, endoscopia, fusões, osteotomias - dependem de diversas nuances, inerentes ao paciente, de forma que cada paciente é único e apresenta variáveis únicas da sua doença. Mesmo sendo um mesmo diagnóstico para dois pacientes, a patologia nunca se apresenta de forma rigorosamente igual em cada um deles. Cabe ao cirurgião elaborar um plano de tratamento único, que seja o ideal para aquele determinado paciente. Ainda assim, há que se observar que nenhum tratamento é isento de riscos, e só o devido aconselhamento, e uma tomada de decisão ponderada e sensata, em conjunto com o médico cirurgião assistente, podem minimizar tais riscos.

Enfim, fica aqui um breve relato, para ambientar o leitor no universo da patologia degenerativa da coluna vertebral, em especial a hérnia de disco. 

Se você tem dúvidas quanto a hérnia de disco, não deixe de entrar em contato via comentário ou através das minhas redes sociais. 

 

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Davidson Alba
CREMERS 32970

Médico neurocirurgião do Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo;
Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Santa Maria (2003-2008);
Especialização em Neurocirurgia pelo Hospital São José - Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (2009-2013);
Especialista em Neurocirurgia pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia-Associação Médica Brasileira e membro titular da SBN;
Curso de Princípios AOSPINE (2011);
Estágio Internacional em neurocirurgia no Barrow Neurological Institute  - Phoenix, Arizona, EUA (2013);
Treinamento em neuroendoscopia intraventricular pelo Instituto Johnson&Johnson de inovações médicas - São Paulo, SP (2014);
Treinamento em cirurgia endoscópica da base do crânio no IRCAD - Barretos, SP (2014);
Treinamento em cirurgia endoscópica da coluna toracolombar no IRCAD - Barretos, SP (2015);
Treinamento em neurocirurgia funcional no Jackson Memorial Hospital - Miami, Flórida, EUA (2016);
Treinamento em estimulação cerebral profunda para distúrbios do movimento - São Paulo, SP (2017);
Treinamento em cirurgia minimamente invasiva da coluna toracolombar pelo Instituto Israelita Albert Einstein - São Paulo, SP (2018).